
Dra. Claudia Maria Cendon, preceptora da residência de Pediatria do Hospital Geral Roberto Santos
Pediatria é uma residência de acesso direto e que dura três anos. No Edital de residência médica do SUS-BA 2023, foram oferecidas 95 vagas para a especialidade na Bahia. Entre algumas das opções de sub especialização da Pediatria, podemos citar: Neonatologia, Cardiologia Pediátrica, Neuropediatria, Oncologia Pediátrica, Endocrinologia Pediátrica, Gastroenterologia Pediátrica, Infectologia Pediátrica, entre outras.
Para saber mais sobre a residência em Pediatria, entrevistamos a Dra. Claudia Maria de Carvalho Cardozo Cendon, médica formada pela UFBA, com especialização em Pediatria e subespecialização em Nefrologia Pediátrica, ambas pelo Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Atualmente, Dra. Cláudia atua como preceptora da residência em Pediatria do Hospital Geral Roberto Santos e conhece de perto a rotina de um residente da área. Confira:
COMO FOI SUA ESCOLHA?
"Quando eu entrei na faculdade, como eu gostava muito de criança, de cara eu já achava que iria fazer Pediatria. Mas ao longo da minha graduação, a minha escolha de especialidade variou bastante. Mas no internato, quando eu passei por Pediatria, com aquela parte de diagnóstico, discussão e convívio maior com as crianças e os acompanhantes, eu me apaixonei de novo e resolvi fazer a residência nesta área. Posteriormente, eu uni um pouquinho do outro gosto e me sub especializei na Nefrologia Pediátrica".
QUAL O PERFIL DO CANDIDATO?
“O Pediatra é um médico que tem interesse de atenção na área clínica e, por natureza, é uma pessoa muito detalhista, afeito a realizar anamneses apuradas e um exame físico minucioso, que serão essenciais para ele realizar diagnósticos precisos, já que muitas vezes o seu paciente não tem como expressar suas queixas. Ele é um médico também que tem que gostar, obviamente, de interagir com crianças e ter uma aptidão para estabelecer bons relacionamentos com pais ou acompanhantes, que são as pessoas que trazem os pequenos para suas avaliações. Vale ressaltar que o Pediatra não se interessa apenas por diagnosticar e tratar doenças, né? Ele também tem que gostar de acompanhar crianças em fase de crescimento, já que, na rotina, o Pediatra atende muitas crianças que não estão doentes, mas que precisam de consultas para monitorização de ganho neurológico, peso, altura e que necessitam apenas de orientações que facilitem o seu desenvolvimento adequado".
COMO MONTAR O CURRÍCULO?
“Tem que estudar durante toda a graduação, porque se deixar só para o fim, vai ser difícil cobrir e abarcar toda a carga de assuntos. Mas, além disso, como nas residências em São Paulo, por exemplo, também têm entrevistas com o chefe do serviço ou preceptor, é importantíssimo que, no seu currículo, ele tenha a presença de publicações e de atividades extracurriculares, como participação em ligas, estágio e monitorias, porque isso é muito valorizado nas entrevistas”.
FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“As residências de Pediatria de Salvador são muito boas, tanto que, na residência que eu atuo, das três residentes que entraram, quase todas são de fora de Salvador, inclusive, a maioria de outros estados. Mas, obviamente, existem residências de Pediatria excelentes em outras unidades, como a residência da USP e a de Ribeirão Preto, em São Paulo, e a do Pequeno Príncipe, em Curitiba. O que eu diria é que as residências de outros estados, principalmente São Paulo e Curitiba, têm um volume de atendimento maior, então, às vezes, o residente consegue ver mais pacientes com patologias diferentes. Mas, na realização da residência aqui, eles saem muito bem preparados. Inclusive, é muito comum pessoas que pretendem trabalhar/atuar aqui em Salvador, terem a estratégia de fazer a residência de Pediatria Geral aqui, porque, com isso, ela fica em contato com profissionais da cidade e, possivelmente, no futuro, terá uma maior facilidade de inserção no mercado de trabalho. E só quando termina essa formação básica, é que eles, se for do interesse, procuram fazer uma subespecialidade em outro estado, principalmente São Paulo, e depois retornam com mais facilidade para se empregar e se inserir no mercado.”.
QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“A partir de 2020, a duração da residência de Pediatria, que era de dois anos, passou para três anos. Durante esses três anos, os residentes passam por diversos rodízios. No nosso serviço, por exemplo, eles fazem trocas mensais e vão rodando por enfermaria de Pediatria, alojamento conjunto, enfermaria de Oncologia ou de Cardiologia pediátrica, UTI pediátrica e UTI Neonatal, Emergência Pediátrica, ambulatório de Pediatria Geral e das diversas subespecialidades pediátricas, para que eles tenham uma visão global da Pediatria e para ver se realmente têm interesse em se subespecializar ou não. No caso do nosso serviço, ainda durante o R2, eles acompanham em dois rodízios diferentes a equipe de Cirurgia Pediátrica e a Bioimagem, para ver essa questão dos exames de imagem, com mais foco nos turnos pediátricos. No ambulatório de especialidades, eles passam por tudo que vocês imaginarem de pneumo, gastro, endócrino, neuro, genética… Passam por tudo, tanto que, às vezes, não fazem ambulatório só lá no Hospital Roberto Santos. A gente tem convênios e alguns residentes vão fazer ambulatórios no Hospital das Clínicas, de especialidades que, porventura, não tenham no nosso hospital."
"O Pediatra é um clínico geral que atende criança, então se ele não tiver uma boa formação, ele não vai ter condição de fazer um bom atendimento, mesmo que seja como Pediatra Geral. Ele tem que saber fazer um diagnóstico inicial e às vezes encaminhar o seu paciente para o especialista quando necessário”.
QUAL DOS ANOS CONSIDERA MAIS DESAFIADOR?
"Vou falar o mais desafiador primeiro, porque você entra precisando aprender muita coisa, né? Muita coisa de Pediatria tem cálculo, você sabe! Então em adulto você tem “Ah é uma grama de 12 em 12”. Pediatria isso não existe. Você tem que calcular e tem que saber os limites máximos de dose que variam de acordo com a medicação; e, fora isso, no primeiro ano além dos rodízios, né? Eles não vão passar por exemplo UTI, é mais de enfermaria e ambulatórios, só que eles têm que fazer os plantões, da tarde e noturnos, de enfermaria no R1. Então com certeza é um ano mais pesado, mais desafiador por tudo isso, pela necessidade de ganhar muito conhecimento rápido e de fazer os plantões. No R2/R3 vai se tornando mais interessante porque você vai cada vez vivendo por mais tempo junto com essa subespecialidade, né? Você vai realmente refinando o seu conhecimento e ao mesmo tempo tendo a oportunidade de ver mais coisas mais patologias diferentes, né? Então eu acho que passa a ficar cada vez mais interessante".
FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“A especialização é sempre um diferencial que vai ampliar o leque de atuação do profissional. Mas se o pediatra desejar atuar apenas em consultório de emergência pediátrica, ele não necessita dessa subespecialização. Os três anos de Pediatria geral basta. Então normalmente quem faz a subespecialização é aquele pediatra que quando passa nesses ambulatórios, nesses rodízios todos que a gente falou, ele se vê diante de uma área que ele gosta mais, que ele preferiria trabalhar mais com aquilo. Mas se ele quer ser médico de consultório de Pediatria geral, fazer puericultura, tratar essas doenças básicas da infância ou trabalhar nas emergências, não é requerido uma sub especialização”.
COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“A inserção do pediatra é principalmente através de plantões nas UPA's ou em emergências pediátricas ou, atualmente, inclusive até enfermarias que tenham aquele pediatra de retaguarda para atendimento de intercorrências, lá no hospital mesmo da gente tem, ou então em consultórios de Clínicas de atendimento de crianças com convênio. Daí para você fazer o seu consultório privado com a sua clientela privada é um pouco mais difícil. Vai requerer mais tempo para você se estabilizar, até mesmo em alguma subespecialidade ou em procedimentos. Essa especialização não é obrigatória, mas, por exemplo, se você faz gastropediatria, você pode fazer endoscopia; se faz pneumopediatria pode fazer a parte de broncoscopia; se é hematologista, não todos, mas alguns fazem mielograma; ou então cardiologista pode fazer cardiografia. Então eu diria que realmente o início da carreira é através dos contatos de emergência ao consultório”.
QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ESPECIALIDADE?
“A principal vantagem, ao meu ver, é você poder acompanhar a criança saudável vigiando o seu crescimento e o desenvolvimento e poder contribuir ativamente para que isso ocorra da melhor forma possível, é gratificante você acompanhar uma criança desde a fase de recém-nascido até os 18 anos, que é quando normalmente a gente deixa de atendê-los, e muitas vezes até, como eu já estou usufruindo agora, receber agora essas "crianças" que atendi com seus filhos, então, eu acho excepcional, você não tem essa oportunidade em outras áreas, né? Além do que, a criança tem um poder de recuperação incrível! Tem um organismo com muita energia e muita facilidade de recuperação, é bem mais provável na Pediatria você vê recuperações plenas e resultados positivos do que em outras áreas. Então isso eu acho que são grandes vantagens."
"A desvantagem é que é uma especialidade com poucas possibilidades de procedimentos. Ou seja, além de fazer Pediatria geral - os três anos - mais dois anos de subespecialidade, ainda fazem mais o tempo requerido para a especialização nos outros procedimentos”.
DICAS PARA ESTUDANTES?
“Que eles procurem, se possível, acompanhar alguns serviços na área de Pediatria antes de finalizar a graduação e que aproveitem muito a passagem pelos ambulatórios de Pediatria ou pelas enfermarias de Pediatria, né? Aprendendo mesmo com os casos dos pacientes deles. Porque se a gente passa por essa fase e deixa para estudar depois, você perde muito do aprendizado. Então, é acompanhando o paciente, vendo aquele desenvolvimento e buscando tudo que está envolvido numa discussão, principalmente de enfermaria, em que às vezes você não está vendo só a doença, mas você começa a ver antecedentes, uma falha alimentar, etc. Então você tem que começar a estudar tudo aquilo para você fazer uma boa base. E conseguir passar, lógico, na prova de residência e já entrar com uma bagagem melhor, que lhe permita se desenvolver mais rápido dentro da residência”.