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TUDO SOBRE: residência em infectologia

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Por: Beatriz Cunha, Isabella Reis e Michelle Vilas Boas 

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Dr. Victor Porfírio, médico pela Universidade Federal da Bahia, Infectologista pelo Instituto Couto Maia. Atualmente, Médico Infectologista do Hospital Mater Dei Salvador, Instituto Couto Maia e do Projeto RePORT no Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose. Professor do curso de Medicina na Faculdade Estácio Alagoinhas.

Infectologia é uma residência de acesso direto e que dura 3 anos. Atualmente são oferecidas 12 vagas para residência médica em Infectologia na Bahia. As áreas de atuação para o infectologista são muitas: Medicina Tropical, Infectologia Hospitalar, Controle de infecção hospitalar, Hansenologia, entre outras. 
Para saber mais sobre a residência em Infectologia, entrevistamos o Dr. Victor Porfírio, médico infectologista do Hospital Mater Dei Salvador, Instituto Couto Maia e do Projeto RePORT. Confira:

COMO FOI SUA ESCOLHA?
“O que me levou a fazer essa escolha foi o estágio do Hospital Couto Maia. Fui estagiário por um ano durante a faculdade e comecei a tomar gosto pelos temas da infectologia. Contudo, não tive certeza naquele primeiro momento que faria infectologia. Fui membro da LACliM e gostava de clínica médica, mas sempre fui muito aberto. Acreditava que o internato era o melhor lugar para ter todas as experiências que pudesse e, ao seu fim, senti que gostava muito de clínica e de pediatria. Depois que me formei comecei a trabalhar na Estratégia de Saúde da Família no interior do estado e no serviço de Emergência do Hospital Couto Maia, onde as coisas fluíram com muita naturalidade, como se tivesse nascido para aquilo. Fui perdendo gosto pela pediatria (atendia muito no PSF) e sentindo que a infectologia corria em mim. Então a escolha para residência de infectologia ocorreu realmente após a faculdade.”
 
COMO MONTAR O CURRÍCULO?
“Especificamente, no meu programa, que foi o SUS-BA, não tem entrevista. Os programas de São Paulo geralmente têm entrevistas e análise de currículo. Mas, assim, o que eu acho que temos que pensar durante a graduação é em tentar montar um bom currículo, mas fazer isso de forma fluida, sem querer simplesmente inflar um currículo que não tem coisas tão concretas ou com as quais você não se identifica. Para mim o melhor momento da graduação foi o meu internato, que era e sempre foi a minha prioridade. Inclusive, o internato foi o que solidificou algumas coisas das relações humanas, de eu ter um trato bom com o paciente, conseguir fidelizar esse paciente, me relacionar bem com os meus colegas e com os preceptores. Então, eu acho que a gente precisa aprender a equilibrar: montar um bom currículo, mas também viver o que a faculdade tem de bom e fortalecer essas relações humanas com os pacientes e com os colegas. Não dá para a gente ser máquina de produção e esquecer o restante das coisas, porque eu acho que não faz sentido nenhum eu ser muito bom, produzir muito, publicar muito artigo, fazer paper, apresentar em congresso e ser desprezível do ponto de vista humano. Como também não adianta nada eu ser um médico extremamente humano, mas desqualificado tecnicamente, porque aí eu vou ser um charlatão. Então, eu acho que a gente precisa aliar esses dois pontos.” 

QUAL PERFIL DO MÉDICO QUE OPTA PELA INFECTOLOGIA?

“Não existe um padrão específico já que é uma especialidade muito aberta, inclusive porque permite o trabalho nos ambientes mais diversos possíveis. Tem gente que entra na residência e tem um perfil de gestão; Outras pessoas têm perfil extremamente assistencialista e gostam de trabalhar em emergência, UTI, enfermaria, ambulatório - gostam de estar ali perto do paciente, o que a infectologia tem muito; E tem gente que gosta de fazer pesquisa, o que é bom, já que temos muito espaço para isso nas diversas áreas da infectologia. Na residência será preciso viver todos os espaços, mas algumas pessoas se identificam com estágio de microbiologia, por exemplo, e podem futuramente atuar em laboratórios e apoio diagnóstico.  Quem gosta de fazer procedimento, apesar de não ser o carro chefe, pode fazer algumas coisas, como punção de liquor. Eu particularmente me enquadro num perfil mais diverso e gosto um pouquinho de cada uma dessas coisas – de ambulatório, cuidado ao paciente grave, discutir antibioticoterapia. Não estou dentro do laboratório e microbiologia, mas gosto de saber o que acontece lá para refinar minha conduta na assistência. Em geral, é uma especialidade que exige vontade e, às vezes, é preciso encarar alguns desafios, porque certas áreas da infectologia incluem doenças negligenciadas, que não tem o fomento da indústria farmacêutica ou entidades de incentivo à pesquisa para realizar esse tipo de investigação.”

FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“O que pesou para mim foi o fator financeiro, já que não tinha um lastro que me permitisse fazer residência fora e ficar longe da família, ou de realizar curso para residência durante a faculdade. Apesar de termos programas excelentes fora da Bahia, quando se faz residência na cidade onde se pretende instalar depois, você se torna conhecido, já que a residência é uma vitrine profissional. Acho que temos algumas lacunas que precisamos cobrir em comparação à São Paulo, que é o grande centro, sobretudo porque lá existem subdivisões da infectologia que não temos aqui
. Lá, algumas pessoas concluem infectologia e fazem subespecialidades como: infecções músculo-esqueléticas, medicina tropical, ou medicina do viajante e imunizações. Aqui não temos essa cultura. Acaba que aqui os infectologistas são infectologistas generalistas por assim dizer. Por um lado, é bom, pois somos versáteis, mas há a desvantagem de não ter o manejo mais refinado. Acho que precisamos começar a mudar essa cultura, aos poucos precisamos fomentar isso, sobretudo em áreas que tem muita demanda na infectologia e carecem de profissionais especializados, como é o caso das infecções em imunossupressos não HIV, principalmente os transplantados de medula.”

QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“Cada programa tem um direcionamento específico.  Em salvador temos três programas diferentes e posso falar sobre o hospital no qual tive minha formação, o Hospital Couto Maia. Basicamente, no R1 temos um período de estágios em clínica médica. No programa do Couto Maia, temos 4 meses de Clínica Médica (2 meses de clínica, 1 mês na cardiologia e 1 mês na nefrologia), e cumprimos também alguns meses de enfermaria e ambulatório na infectologia, além de 1 mês de emergência. No R2 passamos uma parte na enfermaria e no ambulatório de infectologia (com ambulatórios específicos para hanseníase, neuroinfectologia, infectologia geral, HIV), além de períodos de estágio em: laboratório de microbiologia; terapia intensiva; nas imunizações no CRIE; em serviço de controle de infecção hospitalar; e infectologia em serviço privado. No R3, fazemos 3 meses de estágio opcional (ou na cidade ou fora), mais 2 meses de serviço de controle de infecção hospitalar (pelo menos 1 deles deve ser num hospital particular), e também temos pediatria e ambulatórios do CEDAP e CEDAP-2 (hepatologia), além de mais meses de enfermaria em hospital privado.”

QUAL DOS ANOS CONSIDERA MAIS DESAFIADOR E INTERESSANTE?

“O mais desafiador para mim foi o 2º ano de residência, pois foi quando vivemos o surgimento da pandemia da COVID-19. O hospital que antes recebia casos diversos de AIDS, hanseníase, tuberculose, leptospirose, dengue grave, outras arboviroses, meningites, se voltou especificamente para a COVID-19 que, na época, era uma doença inteiramente nova e que a gente foi aprendendo com as coisas acontecendo, tudo ao mesmo tempo. E aprendendo de tudo, inclusive sobre serviço de controle de infecção hospitalar. Quando a pandemia estourou, eu estava rodando no serviço de controle de infecção hospitalar. Fui para lá achando que iria aprender sobre antibiótico e aprendi sobre reorganização do hospital, sobre repensar o mapa do hospital e os leitos, treinar equipes. E quando eu voltei para a assistência, no mês seguinte, eu estava atendendo pacientes graves, manejando coisas que a gente não sabia ainda. Então, o R2 foi mais desafiador. O mais interessante, para mim, acredito que tenha sido o R3, porque eu acho que foi o momento em que conseguimos retomar o perfil antigo de pacientes e aprender coisas novas, solidificar o que havia sido aprendido no R1 e no R2. Além da oportunidade de poder rodar em outros hospitais da cidade, fazer estágio fora. Especificamente, em um dos opcionais, fiz estágio no barco escola Abaré, em Santarém, no Pará, onde passei um período embarcado, atendendo a população ribeirinha. Eu passei 10 dias no barco e os outros 20 dias no município de Santarém mesmo, no hospital municipal, com um perfil de pacientes um pouquinho diferente do nosso aqui.”

FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“Hoje em dia não é algo mandatório, inclusive porque temos pouca gente com essa formação específica, e precisamos sair da Bahia para fazer. Tentou-se, há pouco tempo, iniciar fellowship em infecções em imunossupressos numa faculdade particular de Salvador, mas não foi adiante com o início da pandemia. Acho que seria importante para o fortalecimento da especialidade ter pessoas em subespecialidades mais diversas e com essas formações específicas, mas não é mandatório para trabalhar. Seria bom como refinamento da especialidade.”.

COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“Eu acho que depende muito de cada residente, depende do que ele construiu durante o seu programa de residência. Como eu falei, a residência é uma vitrine e, se você soube vender seu peixe durante esse período, de alguma forma, as portas vão se abrindo aos poucos. Eu desencorajo quem pensa em escolher Infectologia pensando na questão financeira. É uma especialidade que, para mim, é muito gratificante, mas se eu fosse pensar em retorno financeiro, talvez fosse mais interessante seguir outra especialidade. Agora, quem tem abertura para explorar o interior do estado da Bahia ou outros estados, acho que tem muitos caminhos a percorrer e muitas oportunidades, porque o interior carece de infectologistas. Além disso, a gente cada vez mais tem tido crescimento de rede hospitalar no interior do estado, que merecem a presença de um infectologia. São hospitais que têm grande volume de pacientes, leitos de terapia intensiva e é preciso pensar também na questão de ter o infectologista fazendo o controle de infecção hospitalar. Quem está disposto a ir para o interior, vai conseguir muita coisa e, talvez justame
nte pela falta de profissionais no mercado, lá há uma grande possibilidade de ter um retorno financeiro melhor do que na capital.” 

QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ESPECIALIDADE?
A maior vantagem é a satisfação pessoal mesmo, de lidar principalmente com doenças não curáveis, mas tratáveis, como os pacientes que têm AIDS. Às vezes chegamos com paciente grave, em terapia intensiva, intubado, conseguimos manejar esse paciente e fazer o seguimento com ele ambulatorial. Ele passa a usar a TARV, melhora o CD4, melhora o estado imune e leva sua vida. Você consegue ver o resultado do seu trabalho, o resultado da sua intervenção. Isso é muito gratificante, é o ponto positivo maior. Além disso, especificamente para mim, é o fato de a gente poder se voltar a populações que são marginalizadas historicamente. Costumo falar que a infectologia é a especialidade do invisível. E quando eu falo invisível, eu estou falando invisível em, pelo menos, 3 aspectos. Eu falo do patógeno invisível, que é o fungo, o vírus, a bactéria e o protozoário. Eu falo da doença que é historicamente invisibilizada. São doenças que estão há algum tempo, algumas um pouco mais recentes, mas são negligenciadas. O outro invisível é o sujeito invisível, que é a pessoa que vive com essas doenças e que, muitas vezes, carrega outros estigmas da sociedade. E agora, temos um quarto invisível, que é o invisível do que eu não vejo no dia de amanhã com o surgimento de novas doenças. Lidar com esses 4 invisíveis, para mim, também é muito gratificante. De alguma forma, eu posso ajudar o mundo, o meu país, o meu estado, a minha cidade e os meus pacientes. De ponto negativo, eu sou muito suspeito para falar, porque eu sou muito feliz com a minha especialidade. Talvez a gente se voltar para essas questões e perceber que não existe interesse econômico em investigar um pouco melhor e buscar soluções para alguma dessas condições. Isso talvez seja um ponto negativo e é mais uma questão para a gente continuar trabalhando. Enquanto especialista, eu acho que temos que nos blindar desse interesse econômico. Nosso interesse tem que ser o interesse humano, o interesse científico, desprendido da questão financeira.
 
DICAS PARA ESTUDANTES? 
“Eu não sei se tenho uma dica, mas eu acho que poderia ter desenvolvido algumas habilidades melhor antes da residência, como, por exemplo, entender melhor sobre antibióticos. Eu sei que entramos na residência querendo aprender isso, mas eu senti que foi uma falha na minha formação e que é algo importante, não só para quem vai fazer Infectologia, mas para quem vai fazer qualquer área, seja emergência, PSF ou UTI. Então, aprendam antibiótico, estudem, estudem, estudem. Não é porque entrou na residência que vai parar de estudar. Além disso, sejam humanos e gostem de pessoas antes de entrar na residência, porque depois não dá para aprender a gostar. E se você já sabe que não gosta, não vá para a Infecto.” 

23/11

Sessão II do módulo de APS

09/11

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