
Dra. Lourianne Cavalcante, graduada em medicina pela UFBA, com residência em Clínica Médica pelo Hospital São Rafael e residência em gastroenterologia pelo Hospital Professor Edgar Santos
Gastroenterologia (clínica) é uma residência que possui dois anos de clínica médica como pré-requisito e que dura dois anos. Atualmente são oferecidas 11 vagas para residência médica em gastroenterologia na Bahia. As áreas de atuação para o gastroenterologista são: a gastroenterologia clínica – representada pela atividade em ambulatório, acompanhamento de pacientes internados ou plantões -, a endoscopia, que, para título, exige um ano adicional optativo (a qual abarca a porção mais intervencionista da especialidade com procedimentos como endoscopia digestiva alta, colonoscopia, cápsula endoscópica, manometria, biópsia hepática, entre outros) e a hepatologia, que tem como foco a saúde do fígado e pode levar de um a dois anos adicionais de residência a depender da instituição de escolha.
Para saber mais sobre a residência em gastroenterologia, entrevistamos a Dra. Lourianne Cavalcante, graduada em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), residência em Clínica Médica pelo Hospital São Rafael e residência em gastroenterologia pelo Hospital Professor Edgar Santos. Confira:
QUAL O PERFIL DO CANDIDATO?
“Quem gosta de clínica médica, normalmente, vai gostar de gastroenterologia e hepatologia, porque você é obrigado a estudar tudo, a ver o paciente como um todo. Por isso, acredito que a gastro é uma escolha maravilhosa para quem escolhe com amor e consciência”.
FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“Acho que temos bons serviços no país inteiro e aqui também. Na Bahia, existem três residências de gastro que são boas, mas não temos todas as áreas de atuação. No país, o melhor e mais completo serviço é a residência de gastroenterologia da USP, que possui um dos maiores serviços da América Latina. Mas temos outros programas bem legais: tem a USP de Ribeirão Preto, o da UFRJ, existem também bons serviços em Minas Gerais e no sul do país.
Quem vai fazer a residência ser interessante ou não é o próprio residente. Na Bahia, a gente interage bem entre os serviços e os residentes têm a oportunidade de rodar entre os hospitais. Essa interação supre uma ou outra deficiência. Por aqui, as partes de intestino, de doença inflamatória intestinal, esófago e fígado não perdem em nada para nenhum lugar do país, tanto na parte de assistência, quanto na de pesquisa, acesso a medicações e qualidade da preceptoria.
E às vezes a gente consegue fazer um opcional fora ou mesmo uma pós após a residência, e dá para suprir alguns déficits”.
COMO É A ROTINA DO RESIDENTE?
“Após os dois anos da residência em clínica médica, é preciso fazer a prova para gastroenterologia. Na residência de gastro, existe uma parte voltada para a área clínica e todas as áreas de atuação. Estudamos muito esôfago, intestino, fígado, e tem uma parte de endoscopia.
Dentro da especialidade, normalmente, costumamos passar pelos ambulatórios. Temos área de doença inflamatória intestinal, hepatologia, esôfago, gastro geral, pâncreas, intestino e endoscopia, que costuma fazer parte da R2. Algumas vezes, há rodízios com a radiologia, voltados para a radiologia do aparelho digestivo, há treinamentos com a nutrologia. Dentro da especialidade, sempre costuma haver treinamentos relacionados à manometria, cápsula endoscópica e endoscopia. Quanto à endoscopia, os residentes, em geral, rodam pela endoscopia alta, colonoscopia, procedimentos (como gastrostomia) e CPRE e endoscopia”.
FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“É possível ser gastro geral, mas se quiser, o médico pode fazer outra prova e mais dois anos de residência em endoscopia, por exemplo. Dá para fazer hepatologia, que são mais dois anos também”.
COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“A gastro é uma especialidade que tem muitos procedimentos, que consegue te manter numa vertente de clínica e te dá a possibilidade de atuar em intervenções altamente especializadas, como a endoscopia avançada. Você pode ser um gastroenterologista que faz exames de endoscopia mais simples ou ser aquele gastroenterologista que vai fazer CPRE e endoscopia ou cirurgias endoscópicas. Você pode ser aquele médico que vai fazer manometria ou cápsula endoscópica...
Existem várias possibilidades. Muitas vezes, o residente já sai inserido no mercado de trabalho. Você tem a possibilidade de se inserir como um gastroenterologista de consultório ou médico de plantão. No interior existem mais demandas e, se você for mais especializado, melhor, pois há poucas pessoas fazendo alguns procedimentos mais específicos. Então, é um mercado que ainda acolhe bastante e tem carência de determinados profissionais.
O mercado de trabalho muda constantemente. A questão financeira tem que ser uma consequência do bom trabalho que você desenvolve e da sua satisfação pessoal com o que faz”.
DICAS PARA ESTUDANTES?
“Quem pensa em fazer qualquer especialidade precisa ter contato de alguma forma. Se tiver a oportunidade de acompanhar algum profissional ou ambulatório, ver o dia-a-dia da especialidade, acho que é muito legal. E as ligas acadêmicas promovem justamente esse contato mais próximo, de discutir um caso ou ter um ambiente de estágio que torna determinada especialidade mais próxima.
Agora, mesmo os estudantes que tenham maior proximidade com alguma especialidade, acho que devem abrir o leque para outras possibilidades. E outra coisa é que, na hora que for decidir por alguma especialidade, não decida só com a cabeça, seja um pouco mais passional: pense em sua motivação, naquilo que vai te deixar feliz, naquilo que se vê fazendo pelo resto da vida, não pense no mercado de trabalho ou em questões financeiras apenas, afinal, essas coisas mudam”.
COMO FOI SUA ESCOLHA?
“Não tive muita dúvida que eu seria clínica, o que já é meio caminho andado. Durante minha graduação, fazia muita pesquisa. Quando estava em uma optativa de gastroenterologia, um professor perguntou: “alguém tem interesse em pesquisa aqui?”. Respondi que tinha. Era pesquisa clínica com intervenção e achei aquilo o máximo, me trouxe responsabilidade e me levou ao mundo da medicina.
Também experimentei muita coisa durante a residência e acabei me decidindo pela gastroenterologia. No final da residência de clínica, fiz a residência de gastro. Na minha época, a primeira escolha era o hospital das clinicas e optei por ele. Como já gostava muito de pesquisa, fiz a opção de seguir a carreira acadêmica. Acabei a residência e já tinha projeto de mestrado, doutorado e emendei um pós-doutorado. O mestrado e doutorado fiz pela UFBA. Fiz um pós-doutorado pela FioCruz e o outro pela USP”.