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TUDO SOBRE: RESIDÊNCIA EM NEUROLOGIA

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Por: Elvis Paim, Maria Carolina Paraíso, Maria Clara Costa, Raianne Martins

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Dr. João Vitor Assis Costa é médico pela Universidade Estadual de Feira de Santana, especialista em Clínica Médica pelo Hospital Santa Marcelina (São Paulo) e especialista em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-USP).

Nefrologia é uma residência médica de duração de 2 anos que só pode ser feita após a residência em Clínica Médica, que também dura 2 anos. Na Bahia foram oferecidas 13 vagas pelo SUS Bahia em 2022 e algumas das opções de subespecialização dentro da Nefrologia são, atualmente, em doença renal crônica e suas complicações, transplante renal, hipertensão e investigação de hipertensão secundária, litíase renal, injúria renal aguda e hemoglobinopatias. 


Para saber mais sobre a residência em Nefrologia, entrevistamos a Dr. João Costa, médico nefrologista assistente da UTI de Nefrologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e preceptor do programa de Clínica Médica do Hospital Santa Marcelina. Confira:

COMO FOI SUA ESCOLHA?
“A ideia de fazer nefrologia primeiro perpassa pela ideia de fazer clínica. É uma das principais escolhas na época de universidade, não é? [...] Eu optei por fazer Clínica Médica e, dentro da Clínica Médica, eu sempre me encantei pela especialidade em si, pela clínica, pela possibilidade de ver pacientes, de fazer diagnóstico e a ideia de que a Clínica é soberana. A nefrologia, então, parece uma escolha muito natural, porque é uma área de conhecimento que abrange muitos tipos de diagnósticos, muitos tipos de patologias, de doenças, múltiplas áreas de atuação. Então, eu acho que o nefrologista é, acima de tudo, um bom clínico. Para mim, foi uma escolha que fez muito sentido de especialidade”

"Lá na época da Estadual (UEFS), eu estava certo que seria pediatra, até meu TCC foi nesse tema, mas, no último ano [da graduação], a Clínica Médica passou a fazer mais sentido para mim. Comecei a ganhar mais experiência, entender um pouco mais, rodar bastante na UTI, que é uma coisa que rodamos bastante em Feira de Santana. Acabou que a Clínica Médica foi ganhando destaque na minha vida, começando a fazer mais sentido. Eu não pensava em Nefrologia quando optei por fazer Clínica Médica. Inclusive, é uma coisa que sempre aconselho aos residentes é que a gente, na Clínica Médica, não vá muito “fechado”. A Nefrologia foi surgindo mais durante a residência do que na época da Universidade. Se eu pensasse em alguma coisa assim, era em Cardiologia, mas ainda bem distante, não era uma ideia que eu tinha fixa, foi surgir depois."
 
COMO MONTAR O CURRÍCULO?
“O pessoal valoriza muito a participação na vida da universidade, algo que por vezes o estudante esquece. Então, participar dos centros acadêmicos, ligas acadêmicas… Isso ajuda bastante. Obviamente, sempre conta se você está ligado a alguma iniciação científica, se você possui alguma publicação na área ou até mesmo se já participou de congressos da especialidade. Por fim, sendo honesto, o que mais conta em entrevistas, por vezes, é local onde você fez a sua graduação. Nesse aspecto, nem estou me referindo a qualquer sorte de protecionismo ou algo nesse sentido, mas sim ao fato de ter feito seu curso em uma universidade que possui hospital, uma universidade conhecida como é o caso da UFBA, que possui muita estima aqui e o pessoal gosta muito, tem muitos profissionais que admiram a UFBA. Nesse sentido, a instituição na qual você realizou a residência de Clínica Médica também possui certo peso na entrevista. Contudo, eu acho que não dá pra guiar tanto o nosso currículo e a nossa clínica médica pensando na especialidade, mas considero que participar da vida universitária, ter publicações na área e ter se formado, graduação e residência de clínica médica, em instituições respeitadas ajudam bastante.” 

FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“Eu não tenho muito contato com as residências de Nefrologia da Bahia. Eu acho que, aqui em São Paulo, temos uma questão muito grande de número de pacientes, hospitais muito grandes, mas, mesmo em São Paulo, depende do perfil das residências. Falando do meu caso particular, estando no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, é um hospital muito grande, é um complexo hospitalar, o maior da América Latina, então temos muitos pacientes e conseguimos selecionar muitos casos. Então, por exemplo, a gente tinha um estágio específico, dando um exemplo bem do dia a dia, de onconefrologia ou nefro-oncologia, então passávamos um mês no Instituto do Câncer, a gente via uma imensidade de casos em um intervalo muito pequeno de tempo. Também existe uma questão que, aqui em São Paulo, infelizmente existe uma disparidade econômica, então, até em residências que são dentro do Sistema Único de Saúde, a gente consegue um pouco mais de recurso para tocar algumas coisas. Mas, ao mesmo tempo, com quem já conversei, na época rodei com alguns residentes de nefrologia da Bahia que foram fazer estágios optativos em São Paulo, alguns avanços vêm chegando e são residências muito boas na Bahia também. Então, eu acredito que ambas são residências boas, tanto em São Paulo, as opções que a gente tem, como na Bahia. Tem algumas diferenças, particularidades, financeiras um pouco, mas também de número de pacientes.”

QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“É puxada. Acho que, das subespecialidades clínicas, talvez a de nefrologia seja uma das mais pesadas. Primeiro porque boa parte da residência acontece em ambiente hospitalar e, acho que em todos os serviços praticamente, o nefrologista e a nefrologia é a maior equipe de interconsulta, então tem muito volume de paciente. Ao mesmo tempo, são estágios que às vezes não tem muito contato, como transplante renal, que é um mundo novo, você chega na nefrologia sem saber muita coisa, então demanda muito estudo, vai achar que não está dando conta, são pacientes que têm muitas questões, uma complexidade maior. Eu, por exemplo, chegava 7:00 e saia bem tarde todo dia, sábado e domingo estava lá. Então, é uma rotina puxada, mas tem aquela máxima “no segundo ano melhora”. Mas é uma residência mais puxada na maior parte dos serviços. Do meu serviço em particular, a gente no R1, alguns estágios vão se repetir, mas o “Beabá” da Nefrologia é muito forte no primeiro ano. Então, a gente vai ter três meses de transplante renal na minha residência. Temos dois meses de interconsulta de paciente crítico e paciente de UTI. Mais um mês de interconsulta de paciente de enfermaria. A gente também tem a parte que chamamos de crônicos. São aqueles pacientes que estão em programa de hemodiálise ambulatorial, que vão para clínica de diálise, nas suas diversas modalidades. Temos dois meses também que chamamos de “glomérulo”, que é o estágio no qual vemos os pacientes que têm glomerulopatias primárias ou secundárias, mas em regime de enfermarias também, que é a parte de enfermaria da Nefrologia. No segundo ano, a ideia é lapidar alguns conceitos. Lembro também que temos uma UTI de nefrologia, que passamos tanto no primeiro como no segundo ano, que metade dos pacientes são leitos da Nefrologia, mas dividimos com serviços de pós-operatório da cirurgia vascular. Quando a gente vai pro segundo ano, a ideia é mais tentar lapidar conceitos, então roda na UTI de novo, na enfermaria de novo, no “glomérulos”, rodar nos crônicos de novo, então vai rodar praticamente em todos esses serviços de novo, vai mudar um pouco o que vai fazer, o papel. Temos alguns estágios específicos, por exemplo hipertensão, que também é uma área de atuação de nefrologista, por isso falo que é bem amplo, tem bastante nefrologista que é especialista em hipertensão. A gente vai ver nefro-oncologia, nefro-obstetrícia, que é uma parte específica do currículo também. Então, o R4 é uma forma de lapidar o que aprendeu no R3.”

QUAL DOS ANOS CONSIDERA MAIS DESAFIADOR E INTERESSANTE?

“O mais pesado foi o primeiro ano de Nefrologia, o R3, por demanda, o serviço da USP cobra bastante. Foi para mim muito pesado em carga de estudo e carga de dedicação. Mas eu tenho muito carinho pelo meu R1 de Clínica Médica, porque você sai da Universidade, você entra no R1 e começa a descobrir muita coisa que não fazia a menor ideia. No meu R1, foi o ano que mais aprendi. Meu R1 de Clínica Médica, para mim, foi fenomenal. Acho que, talvez, foi o mais interessante para mim, talvez um dos mais desafiadores também porque é tudo muito novo, agora é médico, residente. Eu tenho muito carinho pelo meu R1, mas acho que o mais pesado foi o eu R3, de Nefrologia.”

FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“Eu acho que você não perde por continuar como nefrologista geral, assim como você não perde por se subespecializar. O bom da nefrologia é que você pode continuar fazendo tudo ou ir só para uma parte dela que você continua ainda bem no mercado de trabalho. Acho que, pra quem quer ser transplantador, vale a pena se subespecializar. Principalmente se vier de um serviço em que não se consegue transplantar muito porque o transplante demanda uma certa estrutura. E, principalmente para quem gosta da área acadêmica: “Quero ficar especialista em hipertensão, quero fazer mestrado, quero fazer doutorado”, eu acho que vale a pena. Você se torna uma pessoa de referência naquela área. É interessante porque, por exemplo, você passa a ser referência no seu local. As pessoas passam a te encaminhar pacientes. Então, faz sentido pra quem gosta de se especializar, “Quero fazer só isso” e, por exemplo: “Não quero trabalhar com diálise ambulatorial, só quero fazer consultório e só quero atender gestante”. Faz total sentido, por exemplo, seguir por esse caminho.”

COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“A gente brinca um pouco que o 'ganha pão' do nefrologista é a diálise ambulatorial. É o que tem mais oferta, é o que tem mais emprego. Mas, ao mesmo tempo, você tem outras opções, só precisa ir galgando seu local no mundo. Aí, você precisa traçar uma estratégia pra isso e você precisa fazer. Eu estou bem mesmo sem precisar fazer o 'ganha pão' do nefrologista porque tem espaço e tem local de atuação. Sobre ser fácil encontrar vaga na capital, aqui em São Paulo, acho que sim. Eu acho que o que você mais ganha é com perfil de trabalho. Trabalhar com o que você gosta, você ter um perfil de trabalho em que você vai se desgastar menos, ou que você vai até se desgastar bastante, mas você vai se desgastar com aquilo que você tem aptidão. Aqui em São Paulo você consegue, pra nefrologista, emprego facilmente, você consegue se inserir, você consegue ter um retorno mais do que o suficiente para se manter bem aqui. E compensa sim. Aqui, como nefrologista, você consegue, tranquilamente, se empregar e viver bem. Você pode começar no consultório, tanto particular, mas, também, de ambulatório de convênio ou ambulatório do SUS, em AME, enfim. E tem sempre as possibilidades de plantão hospitalar ou de clínica de diálise. Sobre a qualidade de vida do recém-formado ser satisfatória: eu acho que sim. Comparado ao que é residência e comparado ao que é boa parte dos internatos, é bem melhor. Você consegue fazer sua agenda, você consegue se programar, você consegue pensar suas folgas. Para começar bem a carreira, eu acho que, primeiro, é interessante, quando você sair, ver o que você gosta. Acabou a residência, você tem que parar, olhar e pensar: “O quê que eu quero fazer? O quanto eu vou dedicar pra isso?”. E eu vou me aplicar sabendo no que é legal e no que não é legal. Acho que é começar a, falando num bom baianês, “botar a cara”, vai atrás. Eu aconselho bastante ao nefrologista inicial tentar não se resumir numa coisa só. Eu acho que vale a pena focar boa parte do seu tempo naquilo que você quer fazer, mas continuar seguindo as outras áreas e continuar se atualizando nessas áreas. E eu acho muito interessante que a nefrologia te dá essa possibilidade de ir por outros caminhos se alguma porta se fechar”” 

QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ESPECIALIDADE?
“A primeira delas é a versatilidade. Um aspecto que acabei não comentando anteriormente, inclusive, é a possibilidade de realizar procedimentos um pouco mais elaborados como o implante de Permcath, ou catéter de longa permanência, biópsia renal… Então, você pode ir desde procedimentos, consultório, hospital, telemedicina. No âmbito do consultório, ainda, temos múltiplas áreas de atuação como o manejo de hipertensão, litíase etc. Para mim, então, a versatilidade é a primeira das vantagens. Em segundo lugar, você sempre mantém-se um bom clínico. Você não fica de cabeça fechada, só sabendo tratar aquilo ou fazer aquilo. Você sempre mantém-se um bom clínico isso é sempre muito bom pra qualquer médico. Na nefrologia, é possível pegar os conhecimentos que você adquiriu anteriormente e lapidar, aplicando na sua área de atuação, o que é muito interessante. A terceira vantagem é que a nefrologia é a especialidade mais bonita. Se a clínica é soberana, a nefrologia com certeza torna esse processo ainda mais bonito. É uma especialidade muito bonita… Você consegue receber um paciente grave e conseguir resolver o problema dele. Por outro lado, um paciente que recebe um transplante e com a sua ajuda, consegue ficar bem. Por fim, até mesmo nas intercorrências, você consegue intervir e ajudar. É uma especialidade que de fato agrega muito para sua vida e você faz com gosto.

"Acho que as duas principais desvantagens são em ser uma residência mais exaustiva e, dependendo do lugar, você pode não encontrar uma estrutura hospitalar que ampare a sua prática, diferente de outras especialidades clínicas que você consegue resolver grande parte das situações sozinho no consultório."
 
DICAS PARA ESTUDANTES? 
“Essa é uma pergunta que tenho dificuldade de responder pois como estudante de medicina, ainda que você possa querer nefrologia, e não há problema algum em querer, não dá pra você focar tanto na subespecialidade que você deseja no momento, Contudo, se você quer nefrologia, subentende-se que você quer clínica médica, logo, aprenda bem e faça uma boa formação em clínica médica… Realizar bons estágios em Clínica Médica, participar da liga de Clínica Médica… (risos). Participe dessa área, se interesse por ela e aprenda pois todos esses conteúdos serão resgatados na residência, tanto na Clínica quanto na residência de Nefrologia. Ainda, fazer um bom internato, principalmente, na área de clínica seria a principal dica. Pois não faz sentido decorar, por exemplo, como a máquina de diálise funciona, ainda que isso vá te ajudar no futuro em detrimento de saber bastante clínica médica e fisiologia. No final das contas, nefrologia é fisiologia. Por fim, acho que essa é a principal dica, aprender clínica.”

23/11

Sessão II do módulo de APS

09/11

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