
Dr. João Gabriel Rosa Ramos, professor do Departamento de medicina interna e diagnóstico da FMB-UFBA, médico intensivista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com doutorado em Ciências Médicas pela FMUSP e área de atuação em Medicina Paliativa.
Medicina Intensiva, desde agosto de 2021, é uma especialidade de acesso direto, com duração de 3 anos. São oferecidas 20 vagas de residência na Bahia.
Para saber mais sobre a residência em Medicina Intensiva, entrevistamos o Dr. João Gabriel Rosa Ramos, professor do Departamento de medicina interna e diagnóstico da FMB-UFBA, médico intensivista e Doutor em ciências médicas. Confira:
QUAL O PERFIL DO CANDIDATO?
“A MI tem uma abrangência muito grande de áreas de atuação. Então é possível identificar profissionais que trabalham de maneira muito diversa. O que talvez forme uma base no perfil do médico intensivista, ou do candidato que busca essa especialidade, é o tema da incerteza, de aceitar e lidar bem com a incerteza, já que na MI lidamos muito com doentes indiferenciados e que se apresentam de muitas maneiras. Outro fator importante é a capacidade de trabalhar em grupo, porque a MI é um trabalho de time. Outra coisa que os candidatos à MI buscam é a exposição à uma diversidade de processos, patologias e intervenções. Nesse sentido, no intensivismo temos tanto a parte clínica como a parte de procedimentos e até mesmo exposição à dinâmicas de relação interpessoal e a relação do médico com a família.”
COMO FOI SUA ESCOLHA?
“Hoje em dia há uma maior exposição durante a graduação à MI. Contudo, quando eu fiz a graduação, formei em 2008, não tínhamos uma grade específica de MI na faculdade, então me expus à essa e outras áreas fazendo estágios externos. De início, eu gostava muito da parte de neurologia, e então percebi que eu gostava das agudizações em neurologia. Depois, acabei me envolvendo com pesquisa, me envolvendo com infectologia e, novamente, percebi que eu gostava das agudizações em infectologia. Em seguida, comecei um estágio em urgência e emergência. Ali eu vi que gostava um pouco daquilo, mas que misturar doente grave com doente não grave me incomodava um pouco, o que me fez pensar que trabalhar na emergência talvez não fosse o que eu gostaria de fazer na minha vida. Foi nesse momento que conheci a MI e notei que ela me trouxe a possibilidade de lidar com pacientes agudos de diversas especialidades, que era um pouco do que eu senti que me interessava. Na época, MI não era uma residência de acesso direto então eu precisaria fazer uma área básica antes e optei pela clínica médica e pela residência em MI subsequentemente.”
FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“De início, eu acho que essa é uma escolha multifatorial. No que tange a capacidade técnica, Salvador é capaz de formar excelentes profissionais. A prova disso é que temos excelentes profissionais em todas as áreas nas residências aqui da Bahia, não só em MI. Penso que essa escolha é mais pessoal. Deve-se levar em consideração pontos como viver em um outro lugar, ter acesso e visualizar outras formas de fazer as coisas... Então, na minha opinião, é sobre notar ao que você quer ser exposto, predominantemente a nível pessoal do que profissional. Eu, particularmente, sempre quis morar fora de Salvador por um período e a residência me pareceu um momento adequado para isso. Há, no entanto, pessoas que têm outras responsabilidades, inclusive familiares e dentre outras situações. Nesse sentido, não acho que há algo que deva ser um fator definidor para fazer a residência na Bahia ou fora da Bahia, penso que mistura os diversos fatores com coisas específicas que vocês podem estar buscando.”
QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“Hoje, a MI é uma residência de acesso direto de 3 anos, em que no primeiro ano a pessoa passa na UTI, mas foca mais em áreas básicas, quase como uma condensação dos 2 anos de clínica médica com um pouquinho de anestesia e um pouco de cirurgia. É importante ressaltar que essa dinâmica varia de programa para programa. Depois disso, os dois anos seguintes, tendem é ser focados na UTI propriamente dita. A maior parte dos lugares trabalha com UTIs gerais, então o residente vai passar uma boa parte do tempo entendendo a continuidade do cuidado. Ao mesmo tempo, há um importante ganho durante os plantões noturnos. Em paralelo isso, algo que vai variar de programa para programa, há necessidade de que o residente seja exposto a algumas UTIs de especialidade, mais específicas. Entre elas, podemos citar as de trauma, queimados, cardiológica e as neurológicas também. Outro dado interessante é que a maioria das residências tem também rodízios opcionais, onde você pode trabalhar coisas que falam com a UTI e que talvez não sejam tão diretamente relacionadas, seja em especialidades como nefrologia e cuidados paliativos, ou até mesmo procedimentos. Nesse sentido, como cada vez mais a ultrassonografia e o ecocardiograma são incorporados na prática habitual.”
COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“No início da carreira, a MI tem a vantagem que, a pessoa que sai da residência, consegue trabalhar exclusivamente com a especialidade escolhida. O escopo de atuação é amplo, a sequência mais comum é o profissional entrar como plantonista, assumir a função de diarista, e, se tiver um desejo pela gestão, pode surgir também essa oportunidade. A MI tem alguns prós: um, você sai trabalhando na área, outro, você sai com uma boa remuneração. Então o que é que tem de contra: o plantão é uma obrigação. Existe uma obrigatoriedade no horário, que é a desvantagem da vantagem de poder controlar o que você faz após o plantão. Outro contra é que quando se trata de remuneração, apesar de entrarmos numa boa faixa de remuneração, temos um “efeito teto”, porque você trabalha por horas trabalhadas e existe um número máximo que você é capaz de trabalhar, então é mais difícil você conseguir agregar valor à sua hora trabalhada, a distribuição da remuneração entre os profissionais é bem homogênea e constante.”
DICAS PARA ESTUDANTES?
“Serve não só para quem quer MI: a graduação é um local de amadurecimento, mas não deve ser um local de fechamento de visão. Por mais que você goste de alguma coisa, você deve se esforçar para aprender o máximo sobre o máximo de áreas que você for exposto, porque lá na frente isso vai ser útil para você. Não deve ter como meta sair como especialista da graduação (o reumatologista, o intensivista, por exemplo), você deve sair como o melhor médico generalista que você puder. Outro lado é que devemos estar conscientes de como, na prática, se dá o exercício da especialidade, pois é onde vamos gastar a maior parte do tempo de nossas vidas, então entender um dia de trabalho típico é super importante, e a melhor forma de vivenciar isso é de forma prática. Se você tem uma área de interesse, faça estágios internos/externos, converse com pessoas, se exponha: você não casa com alguém que nunca namorou, então não se deve escolher uma especialidade que você não conhece só porque você gosta de estudar aquilo, porque, no final, o dia-a-dia vai ser a rotina operacional do trabalho.”