
Dr. Marco Aurélio Salvino, Clínico Médico e Hematologista pela UNICAMP, especialista em Transplante de Medula Óssea, PhD em Biotecnologia e Supervisor do Programa de Residência Medica em Hematologia e Hemoterapia da UFBA
Hematologia é uma residência com pré-requisito (clínica médica) e que dura 2 anos. Atualmente são oferecidas 4 vagas para residência médica em Hematologia na Bahia. As áreas de atuação para o hematologista são muitas: Transplante de medula óssea, Hemostasia, Hematologia Pediátrica, Citofluorimetria, entre outras.
Para saber mais sobre a residência em Hematologia, entrevistamos o Dr. Marco Aurélio Salvino, Clínico Médico e Hematologista pela UNICAMP, especialista em Transplante de Medula Óssea (Unidade de Transplante Adulto e e Pediatrico d'Ospedale San Camillo-ROMA-IT / Hôpital Saint Louis-PARIS-FR), PhD em Biotecnologia e Supervisor do Programa de Residência Medica em Hematologia e Hemoterapia da UFBA. Confira:
QUAL O PERFIL DO CANDIDATO?
“Gostar da clínica como um todo. A gente faz a suspeita diagnóstica, o diagnóstico, o mielograma, lê a lâmina do mielograma, dá a notícia do diagnóstico e faz o tratamento. É uma especialidade em que você domina muito todo o estado de saúde do paciente e não só uma parte dele, coisa que virou comum na medicina. Então, é uma especialidade para quem gosta de conversar e explicar a doença para o paciente e as gerações mais novas às vezes não têm tanta paciência. Paciente complexo dá trabalho de conversar, de falar com a família sobre prognóstico e paliação. Também precisa saber lidar com mortes, pois muitos pacientes vão ter doenças fatais. Você pode até não fazer oncohemato, fazer a hemato benigna, mas em qualquer subespecialidade vai lidar com pacientes complexos e graves. Se você quiser se envolver com o paciente, a hematologia é bem rica, mas sabendo que tem o ônus e o bônus disso. Não é uma especialidade para ter uma melhor qualidade de vida, no conceito de “qualidade de vida” que as pessoas entendem no geral. Eu entendo como qualidade de vida trabalhar com o que gosto, do jeito que eu gosto. Mas não é uma especialidade para trabalhar pouco e chegar cedo em casa, por exemplo”.
COMO MONTAR O CURRÍCULO?
“Eu faço parte de uma pesquisa que está tentando identificar características do residente em hematologia. O que mais sinto falta não é do conhecimento e da necessidade de ter estudado mais hematologia na graduação; sinto falta das soft skills. Na hematologia há a necessidade de se comunicar com os pacientes, de dar boa notícia, de dar má notícia, de falar sobre um óbito, sobre terminalidade, sobre planejamento terapêutico, dificuldade diagnóstica, raciocínio clínico de doenças raras. Isso não é conhecimento absoluto e teórico e são habilidades que eu sinto falta”.
FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“A nossa residência do Hospital das Clínicas, que é o único programa de residência do estado, é um programa muito rico em preceptoria e isso é um diferencial positivo muito grande, pois tem muitos preceptores, de muitas especialidades. Então, a parte de discussão tem uma riqueza que não perde para nenhum serviço de São Paulo. Os serviços da USP e UNICAMP tem algumas vantagens de estrutura física, como por exemplo, um laboratório de coagulação bem avançado ou de alguma outra terapia bem avançada. Isso é interessante que o residente tenha contato, mas não faz muita diferença na formação. No nosso programa, a gente identifica as áreas de necessidade e o residente tem algum mês opcional para rodar em outros lugares. Nossos residentes vão poder rodar 1 mês em um laboratório clínico em Portugal ou no laboratório de coagulação da USP, por exemplo. Então, você tem a possibilidade de transformar um déficit em uma vantagem. De corpo clínico, nosso programa não perde para nenhum serviço de São Paulo. A gente também tem um serviço de referência de alta tecnologia que é o São Rafael, e os residentes também rodam lá e conhecem o serviço privado. Eu indico USP e UNICAMP para quem quer ter a experiência de viver fora, que eu quando estudei achei muito rica, mas só indico USP e UNICAMP, não aconselho sair da Bahia para fazer qualquer outro programa”.
QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“No primeiro ano, o residente roda mais na enfermaria, uns 50% de enfermaria, 30% de ambulatório e 20% de outras habilidades que inclui banco de sangue, opcional, laboratório. No segundo ano roda menos em enfermarias (20%) e mais em ambulatórios, laboratórios, opcionais, transplante de medula óssea e terapia celular. O primeiro ano é o mais desafiador e o segundo é mais interessante. A hematologia tem uma linguagem própria, então, no primeiro ano o residente tem um período de adaptação dura. No segundo ano ele já tem intimidade com a linguagem e começa a viver as experiências, várias doenças, vários ambulatórios. O segundo ano tem um lado mais interessante, porque o residente já domina a linguagem”.
FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“Para o hematologista de grandes capitais, é uma necessidade. Todas as especialidades têm as suas subáreas e a hematologia é uma das especialidades que tem mais subárea. Eu posso fazer: hematobenigna, hematomaligna, transplante de medula óssea, diagnóstico, gestor de banco de sangue. Você vai escolher uma subárea que vai se alinhar ainda mais com o seu perfil. A Hematologia tem tanto conhecimento e tanta pesquisa, é uma das áreas de maior número de inovação por ano, de mecanismos de ação, de terapias, de transplantes... É tanta coisa que acaba havendo necessidade de fazer imersão de estudo. Eu estudo muito mais hoje do que na graduação.
Mas, no interior, você tem que ser bom em tudo. Pessoalmente falando, acho que o mercado está muito grande no interior. As capitais já estão cheias de hematologistas, então restringe e não tem espaço para quem não queira se especializar. Por outro lado, tem muito espaço para qualquer hemato no interior. O déficit em hematologia no sistema público é violento”.
COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“Depende. Na nossa especialidade, não existe muito plantão de Hematologista, apesar de existir alguns. Mas, se uma pessoa ocupar todos os dias de plantão, ela não estará investindo na construção da sua carreira. Então, a mensagem que eu dou é: não ganhar muito no começo e, se quiser ganhar muito, pode estar cometendo o erro de não investir na construção da carreira. A carreira médica, ainda mais para as novas gerações, vai ser muito mais competitiva, com muito mais profissionais no mercado e onde tem muito profissional vai faltar qualidade. Então, se você investir na sua qualidade, em algum momento a boa remuneração aparece como um processo natural. Não é uma especialidade com largada maravilhosa, é uma carreira de construção e a especialidade permite a construção. Para quem tem pressa, não é uma boa área”.
COMO FOI SUA ESCOLHA?
“Duvido que a maioria das pessoas tenham toda a certeza do mundo na escolha de uma especialidade. Fiz minha graduação na UNICAMP e, no internato de lá, a hematologia é muito rica, o interno roda 1 mês de forma bem ativa. Então, acabei tendo um contato grande com a especialidade. Também tive professores/preceptores muito próximos e você acaba sendo motivado pelo perfil do professor, se identifica. É uma especialidade que possui alta tecnologia no diagnóstico, na conduta, na terapia celular, transplante de medula óssea... Eram muitas coisas novas e sempre gostei dessas inovações. Outra coisa que eu também me identificava era que tinha bastante doenças raras no meio. Tinha muita coisa nova, emoções novas, doenças diferentes, isso é uma coisa que me agrada até hoje. Se voltasse no tempo, escolheria de novo a hematologia”.