
Dra. Érika Pérez Iglesias, preceptora da residência médica em Otorrinolaringologia do HUPES-UFBA e mestre em Ciências da Saúde pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo
Otorrinolaringologia é uma residência de acesso direto e que dura 3 anos. Atualmente são oferecidas 12 vagas para residência médica em Otorrinolaringologia na Bahia. As áreas de atuação para o otorrinolaringologista são muitas: medicina do sono, laringologia (cirúrgica), otoneurologia, via aérea pediátrica, entre outras.
Para saber mais sobre a residência em Otorrinolaringologia, entrevistamos a Dra. Érika Pérez Iglesias, preceptora da residência médica em Otorrinolaringologia do HUPES-UFBA. Confira:
QUAL O PERFIL DO CANDIDATO?
“O estudante que acaba se interessando mais é o gosta de especialidade cirúrgica. Otorrino é uma especialidade eminentemente cirúrgica. Pode ser que depois você não opere, mas, na residência você acaba operando. O perfil que mais vejo é esse, de quem gosta de procedimentos cirúrgicos rápidos”.
COMO MONTAR O CURRÍCULO?
“A primeira dica é: veja de tudo! Eu, por exemplo, fiz residência em São Paulo. Na entrevista, eles se interessam muito pelo que você fez. Então, faça estagio em todas as áreas, faça pesquisa independente do que seja, intercâmbio... Cada vez mais é bem visto ter publicação científica. Liga acadêmica também é superimportante, assim como saber idiomas, principalmente o inglês. Você vai ler tudo em inglês como especialista e, até um livro ser traduzido para português, demora um tempo e fica desatualizado”.
FICAR OU NÃO EM SALVADOR?
“Eu fiz internato no HUPES e não fiz residência em Salvador. Mas acho que hoje é tudo muito parecido. Claro que em um grande centro você vai ter mais acesso à tecnologia, mais pesquisa, verba, aparelhos mais modernos e disponibilidade de mais instrumentais. Mas, às vezes, você não tem o paciente tão acessível. A gente aqui tem uma residência que, graças a Deus, é muito boa, muito forte, então é bem visada por residentes de todo país. Então, hoje, não vejo diferença dos grandes serviços de São Paulo para o HUPES, onde temos uma das melhores residências em Otorrinolaringologia do Brasil”.
QUAL A ROTINA DO RESIDENTE?
“A gente tem que lembrar que otorrino é uma especialidade que os alunos não saem sabendo fazer um exame físico direito, porque geralmente não veem muito na faculdade. Nos primeiros meses eles chegam perdidos. O R1 tem que passar a dominar a questão de logística, internação, prescrição. Tem que chegar mais cedo no hospital, checar os aparelhos, ver os pacientes... No decorrer desse 1° ano eles já amadurecem muito, então ganham mais autonomia para ver um paciente sozinho na enfermaria e informar sobre o caso para o R2, R3 ou preceptor. Mas é um trabalho mais cansativo, ele é o primeiro a chegar e o último a ir embora. Também é um ano que opera: o R1 já faz adenoamigdalectomia.
O R2 já é mais dono de si, eu brinco que é o melhor ano, porque ele já não tem aquelas obrigações burocráticas do R1 e também já não tem aquela responsabilidade toda do R3. E o R3 já é quase um otorrino formado. Ele tem mais autonomia, discute casos com internos. Mas precisa se preocupar com a prova de título, também estuda muito”.
FAZER OU NÃO SUBESPECIALIZAÇÃO?
“A subespecialização é fundamental. Claro que você precisa ser um bom Otorrino geral, então necessita saber fazer de tudo no seu consultório. Mas atuamos em muitas coisas: histopatologia, lesões de boca, otoneurologia, implante coclear... É difícil um otorrino entender profundamente de tantas coisas. Eu, particularmente, fiz Medicina do Sono. No meu consultório, a maioria dos pacientes busca essa especialização. Na prática, sabemos quem é o colega que atende mais tontura, perda auditiva, cirurgia endoscópica nasal, por exemplo, e acabamos encaminhando, porque existe uma grande e constante evolução no conhecimento científico na Otorrinolaringologia”.
COMO É O COMEÇO DA CARREIRA?
“Ainda existe bastante vaga nas clínicas populares e a remuneração não é das piores. Se você for bom, vai achar espaço. Claro que é preciso um pouco de paciência, não vai sair da residência com o melhor emprego do mundo. Como tudo na vida, temos que demonstrar interesse e dedicação. A gente observa a proatividade do residente e ajudamos a procurar emprego, então a indicação também ajuda muito. Existe também muita demanda no interior, a remuneração é até melhor do que na capital. Mas nossos residentes saem e conseguem atuar na Otorrino – existem especialidades em que você sai e vai dar plantão de clínico ou pediatra. Se você é um bom profissional, quando atende bem o seu paciente, ele fica tão satisfeito que te indica para outras pessoas. Isso começa na residência. Seja bom no que você faz, se dedique e faça com carinho”.
A ESPECIALIDADE OFERECE QUALIDADE DE VIDA?
“Nossa especialidade não tem muita urgência. Isso te dá qualidade de vida, atendemos mais consultório e o médico monta o próprio horário. Dá para marcar as cirurgias num dia mais tranquilo, por exemplo. Se você opera, claro que tem uma influência na qualidade de vida, no sentido de que é preciso acompanhar o paciente e ficar de sobreaviso. Mas, no geral, otorrino é uma especialidade que garante uma boa qualidade de vida”.
QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DA ESPECIALIDADE?
“Otorrino é uma especialidade muito plural, tanto na idade dos pacientes quanto no formato clínico e cirúrgico. Não é um médico que atende só consulta, o otorrino pode fazer procedimentos, exames, é uma especialidade que abrange muitas doenças de diferentes áreas. Então, é possível para o médico escolher a área com que tem mais afinidade.
Como desvantagem, acho que talvez seja a escassez de vagas no SUS. Dificilmente tem um concurso público para otorrino e, quando tem, são ofertadas pouquíssimas vagas. UBS e UPA não têm otorrino, por exemplo”.
DICAS PARA ESTUDANTES?
“Acho que a principal coisa é vir no ambulatório durante o internato, participar, porque como não temos muito contato na faculdade, é preciso vivenciar a especialidade, para ter certeza de que é o que você quer mesmo. Assista as cirurgias e saiba que é uma especialidade cirúrgica. Como eu falei, depois você pode escolher não atuar em cirurgia, mas durante a residência há esse treinamento cirúrgico”.
COMO FOI SUA ESCOLHA?
“Eu gostava de pediatria, fui uma das fundadoras da Liga de Pediatria (LAPED), inclusive. No internato, por proximidade com alguns otorrinos, acabei acompanhando e me interessando, porque a especialidade lida com todas as idades. Fiquei encantada, porque na pediatria eu não poderia atender um idoso, que também gosto muito. Antes eu nunca tinha pensado em Otorrinolaringologia, até porque não é uma especialidade que a gente tem muito contato na faculdade. Tomei a decisão no internato”.